sábado, 18 de fevereiro de 2012

Interlúdio do Bebê. Um Novo Olhar Sobre o Nascimento



Um recém-nascido entre um asno e um boi: hoje muita gente compartilha essa imagem simplificada do Nascimento. Numa determinada escritura * consta que assim que Maria começou a dar à luz, José partiu em busca de uma parteira. Assim que ele retornou com a parteira,  Jesus já havia nascido. Foi somente quando uma luz brilhante se atenuou que a parteira se encontrou diante  de uma cena incrível: Jesus já havia encontrado o seio de sua mãe! Segundo consta** a parteira teria exclamado que essa criança se conduziria, tornando-se homem, segundo as leis do Amor e não segundo as leis estabelecidas pelos homens.
No dia em que Jesus estava prestes a vir ao mundo Maria recebeu uma mensagem de humildade. Ela se encontrava num estábulo, entre outros mamíferos. Sem palavras para dizer, suas companhias lhe ajudaram a compreender que nestas circunstâncias só lhe restava aceitar sua condição de mamífero. Era necessário secretar os mesmos hormônios que outros mamíferos secretam quando eles colocam no mundo seus bebês, fazendo agir a parte primitiva do cérebro que nós temos todos em comum.
A situação era ideal para que Maria se sentisse em segurança. O "trabalho de parto" ocorreu em condições possíveis.
Tendo discernido a mensagem de humildade e aceito sua condição de mamífero, Maria se encontrou sobre "quatro patas". Em tal postura e na obscuridade da noite, ela facilmente se abstraiu do mundo.
Pouco depois do seu nascimento, o recém -nascido Jesus estava nos braços de uma mãe extática, tão instintiva como uma mãe mamífero em condições semelhantes. Foi numa atmosfera verdadeiramente sagrada que Jesus  foi acolhido e que ele pode, facilmente e progressivamente, eliminar os hormônios de estresse que ele teve necessidade de secretar para nascer. O corpo de Maria estava bem quente. Mesmo o estábulo estava quente, graças à presença dos animais.
Instintivamente Maria cobriu o corpo do bebê com uma roupa que ela tinha em suas mãos. Ela ficou fascinada pelos olhos de seu bebê e nada poderia distrai-la da intensidade do cruzamento de olhares que se estabelecia. Esse cruzamento de olhares lhe permitiu alcançar um outro pico de ocitocina, o que provocou uma nova série de contrações uterinas que enviou ao bebê um pouco de sangue precioso acumulado na placenta. Logo a placenta foi desprendida.
Mãe e bebê se sentiam em segurança. No início, Maria, conduzida pela parte do cérebro que nós compartilhamos com todos os mamíferos, estava de joelho. Depois do desprendimento da placenta ela se deitou de lado com o bebê próximo ao seu coração. De repente, Jesus virou a cabeça para a direita e para a esquerda , e finalmente abriu a boca em forma de O. Conduzido  pelo cheiro, ele se aproximou cada vez mais do seio. Maria, que estava ainda sob os efeitos de um equilíbrio hormonal particular e, portanto, muito instintiva, sabia perfeitamente como segurar seu bebê e fazer os gestos necessários para ajudar o bebê a encontrar o seio.
Foi assim que Jesus e Maria transgrediram as regras estabelecidas pelo neocórtex da comunidade humana. Jesus - um rebelde incurso desafiando toda a convenção- havia sido iniciado por sua mãe.
Jesus mamou por muito tempo e vigorosamente. Com apoio de sua mãe, ele saiu vitorioso de um dos episódios mais críticos de sua vida. Em poucos  instantes, ele se adaptou à atmosfera e começou a utilizar seus pulmões, se adaptou às forças de seu peso e às diferenças de temperatura e entrou no mundo dos micróbios. Jesus é um herói!
Não havia relógio no estábulo. Maria não procurou saber quanto tempo Jesus permaneceu em seus seios antes de adormecer. Na noite seguinte, Maria teve apenas alguns episódios de sono leve. Ela esteve vigilante, protetora e ansiosa por satisfazer às necessidades da mais preciosa das criaturas terrestres. Nos dias seguintes, Maria aprendeu a sentir quando seu bebê apresentava necessidade de ser embalado.
Havia tanta harmonia entre eles que ela sabia perfeitamente adaptar o ritmo do embalar as necessidades do bebê. Enquanto embalava, Maria se punha a cantarolar melodias e a reunir algumas palavras. Como milhões de outras mães, ela havia descoberto as embaladeiras.
Foi assim que Jesus começou a aprender sobre o movimento e, portanto, sobre o espaço.
Foi assim que ele aprendeu também o que é ritmo e , portanto, ele começou a adquirir a noção de tempo. Ele entrou progressivamente na realidade espaço-tempo. Em seguida, Maria introduziu gradativamente palavras, cantarolando suas cantigas de ninar. Foi assim que Jesus absorveu sua língua maternal.

( Retirado do belíssimo livro de Michel Odent: A Cientificação do Amor- 2002)
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* Proto-Evangeli de Jacques XIX 2. Cite dans: Jesus. jean Paul Roux. Fayard, Paris, 1989, p 100.
** Jacob Lorber. Enfance de Jesus et l`evangelile de Jacques. Chapter 16. Editions Hélios, Paris.

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